domingo, 24 de janeiro de 2010

Nasrudin e o Iogurte



Nasrudin e o Iogurte

O Mullá vivia numa cidadezinha junto de um rio.
Nas suas margens passeava com um copo de leite na mão.
Olhou para o rio, olhou para o copo,
Derramou o leite no seu leito
E com um galho
Começou a mexer as águas
Em contínuo movimento circular.
Passava o Presidente da Câmara
Que depois de muito o observar
Julgou estar Nasrudin louco.
Mesmo assim, interrogou-o:
“Que fazes Nasrudin há horas sem parar?”
“Estou a fazer iogurte.”
“Enlouqueceste homem?!
Mesmo que derrames cem mil litros
Nunca farás iogurte.
O rio é vasto e suas águas muitas.”
Nasrudin olhou-o
Com o seu jeito peculiar de indagar:
“Já pensou se fosse possível?”

(Histórias de Nasrudin, p. 37)

Neste conto Sufi 1, o sábio Nasrudin, em silêncio, tenta algo aparentemente impossível: fazer um rio de iogurte com um pouco de leite, na beira de um rio. Confiante em seu intento e inflexível, sua mente está compenetrada neste objetivo. O Presidente da Câmara, ao passar e ver Nasrudin durante muito tempo nesta atividade se interessa e vai perguntar o que ele está a fazer. Nasrudin responde confiante: “Estou a fazer iogurte”. O homem pensa que o Sábio está louco, pois o rio é muito vasto e o leite, pouco. Nasrudin então lhe pergunta: - ´”Já pensou se fosse possível?”
Como lição deste pequeno conto, pode-se interpretar que, da mesma forma, a maioria das pessoas está acostumada a agir como o Presidente da Câmara, que desistiria de tentar fazer algo que imagina não levar a nenhum resultado, através de um pequeno ato. Talvez elas possam julgar que tal proceder perder-se-á num rio, cujas águas turbulentas dissiparão todas as suas tentativas e desistem antes mesmo de tentarem. Porém existem aqueles que não se intimidam com o rio tempestuoso e, mesmo assim, livremente, lançam as setas de sua vontade contra o alvo desconhecido. É o caso de Nasrudin com seu copo de leite: ele não dá ouvidos à sua mente e age. Com isso, o sábio demonstra que, apesar da impossibilidade aparente de algum objetivo, deve-se, sobremaneira, tentar realizá-lo, mesmo assim. Pode-se, a partir daí, quem sabe até, um dia, convencer o Presidente da Câmara (e todos os outros) a tentarem também, e, quem sabe, se todos tentassem, em conjunto, não conseguiriam, então, até transformar um rio em iogurte?!

William D. Sversutti

1 - Histórias de Nasrudin - Ed. Dervish, Rio de Janeiro 1994

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