quinta-feira, 9 de junho de 2011

O poeta pobre - Hafiz

A inconstância reina soberana.
São raras hoje, as provas de amizade fiel.
Os homens sérios vêem-se reduzidos a estender aos indignos a mão leal.
Na imensa dor do mundo,
o homem de bem não conhece um instante de repouso ao seu sofrimento.
Que o poeta faça um canto claro como o vinho,
um canto que derrame no coração uma onda de alegria.
O avarento e o guloso não lhe atirarão sequer uma espiga sem grãos,
a ele que pode cantar as melodias dos anjos.
A Sabedoria, ontem, disse-me baixinho:
- "Vai! Embora fraco, tem paciência.
"Sim, seja a paciência a tua única arma. Doente, ou triste - têm paciência!"
Ó Hafiz, guarda na alma este conselho, e,
se de fatigado cambaleias,
endireita-te,
ergue a fronte,
e caminha!

Hafiz

terça-feira, 7 de junho de 2011

Viaja dentro de ti - Rumi

Viaja dentro de ti (Rumi)

Pudesse a árvore vagar
E mover-se com pés e asas,
Não sofreria os golpes do machado
Nem a dor de ser cortada.

Não errasse o sol por toda a noite,
Como poderia ser o mundo iluminado
A cada nova manhã?

E se a água do mar não subisse ao céu,
Como cresceriam as plantas
Regadas pela chuva e pelos rios?

A gota que deixou seu lar, o oceano,
E a ele depois retornou,
Encontrou a ostra à sua espera
E nela se fez pérola.

Não deixou José seu pai
Em lágrimas, pesar e desespero,
Ao partir em viagem para alcançar
O reinado e a fortuna?

Não viajou o Profeta
Para a distante Medina
Onde encontrou novo reino
E centenas de povos para governar?

Faltam-te pés para viajar?
Viaja dentro de ti mesmo,
E reflete, como a mina de rubis ,
Os raios de sol para fora de ti.

A viagem te conduzirá a teu ser,
Transmutará teu pó em ouro puro.

Ainda que a água salgada
Faça nascer mil espécies de frutos,
Abandona todo amargor e acidez
E guia-te apenas pela doçura.

É o Sol de Tabriz que opera todos os milagres:
Toda árvore ganha beleza
Quando tocada pelo sol.

("Poemas Místicos", de Jalad ud-Din Rumi, poeta Persa século XIII - Editora Attar)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A Caaba do coração (Rumi)

A Caaba do coração (Rumi)

O conhecimento acaba de chegar
- talvez não o saibas.

O coração invejoso está sangrando
-Talvez não tenhas coração.

A lua revelou sua face e abriu suas asas radiantes.
Toma emprestado uma alma e um par de olhos
caso também não o tenhas.

A cada dia e a cada noite te alcança uma flecha alada
arremessada por um arco invisível.
O que podes fazer se não tens escudo?
Curva tua vida.

Não foi o cobre da existência,
como a face de Moisés, transmutado em ouro
pela divina alquimia?

Que importa se não tens ouro num saco como Qarun?
Dentro de ti há um Egito e tu és o seu canavial.
Incomoda-te não teres uma reserva de açúcar?

Viraste um escravo da forma, como os idólatras.
tu te parece com José, e ainda assim não te vês.
Por Deus, quando vires tua própria beleza no espelho,
Serás o ídolo de ti mesmo, não o cederás a ninguém.

Ó razão, não serás um tanto injusta
ao chamá-lo de parente da lua?
Acaso estás cega?

Tua cabeça é como uma lâmpada de seis mechas.
Como acendê-las todas sem possuir a centelha?

Teu corpo é como um camelo ou um asno
que se dirige à Caaba do coração:
se fracassas na perseguição é por tua natureza animal
e não por falta de montaria que te possa levar.

Se ainda não foste à Caaba,
a Fortuna mesma há de conduzir-te até lá.
Não queiras escapar, ó parlador,
não encontrarás refúgio contra Deus.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Pensamentos soltos - Katha Upanishad

Este Eu não é concebível pelo estudo nem sequer pela inteligência e pelo saber. O Eu só se revela em essência a quem se consagra ao Eu. Quem não tiver renunciado aos caminhos do vício, quem não pode controlar-se, quem não está em paz dentro de si mesmo, cuja mente está distraída, jamais compreenderá o Eu, ainda que esteja repleto de todo o saber do mundo (Katha Upanishad)