sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Poemas - Encontro de Almas - Rumi



Encontro de almas

Vem.
Conversemos através da alma.
Revelemos o que é secreto aos olhos e ouvidos.

Sem exibir os dentes,
sorri comigo, como um botão de rosa.
Entendamo-nos pelos pensamentos,
sem língua nem lábios.

Sem abrir a boca,
contemo-nos todos os segredos do mundo,
como faria o intelecto divino.

Fujamos dos incrédulos
que só são capazes de entender
se escutam palavras e vêem rostos.

Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos Um,
falemos desse outro modo.

Como podes dizer à tua mão: "toca",
se todas as mãos são uma?
Vem, conversemos assim.

Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma.
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma.
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.

Vem, se te interessas, posso mostrar-te.

(Jalal ud-Din RUMI. Tradução: José Jorge de Carvalho - Poemas místicos: Divan de Shams de Tabriz. Editora Attar)

Poemas - Kabir



ESTA secreta palavra, 
poderei pronunciá-la alguma vez?
Como poderei dizer Ele não é desta meneira
ou assemelhá-lo seja ao que for?
Se digo que ele está dentro de mim,
o universo inteiro se envergonhará.
Se digo que Ele está fora de mim é falsidade.
Ele faz com que o mundo interior e o exterior sejam
indivisível Unidade.
O consciente e o inconsciente: sobre ambos
Ele repousa os pés.
Ele não é manifesto nem oculto: não é revelado,
tampouco deixaria de revelar-Se.
Não existem palavras para dizer o que Ele é.

Kabir

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Poemas - Somos uma só alma - Rumi




Em verdade, 
somos uma só alma, 
eu e tu.

Aparecemos e nos ocultamos,
Tu em mim, 

eu em ti.

Aqui está o sentido profundo da minha relação contigo:
Já não existe entre mim e ti,
Nem mim, nem tu.


Somos o espelho e o rosto ao mesmo tempo.


Estamos ébrios do cálice eterno.


Somos o bálsamo e a cura,
Somos a água da juventude e aquele que a verte.


Quando o teu olho 

se tornou num olho 
para o meu coração,

Meu coração cego se inundou nessa visão.


Vi que eras o espelho universal 

para toda a eternidade:
E eu disse: 


"No final, eu encontrei a mim mesmo:
Em seus olhos conheci o caminho da luz".

 Djalal Ud-Din RUMI

domingo, 24 de outubro de 2010

Pensamentos soltos - Goswami Tulsidas



“Você precisa de luz tanto dentro quanto fora de casa? 
Coloque então a lâmpada no degrau de sua entrada! 
Do mesmo modo, você deseja espalhar a iluminação da Paz (shanti) 
tanto fora quanto dentro de você? 
Coloque então o Nome do Senhor em sua língua, 
que é a porta de entrada de sua personalidade!
A lâmpada na língua não irá tremer, 
esmaecer ou se apagar por nenhuma tempestade. 
Ela lhe conferirá Paz,
bem como a todos que com você se encontrar, 
até o mundo inteiro”

Pensamentos soltos - Mo Tzu (Mozi)



O amor das pessoas umas pelas outras beneficiam-nas mutuamente. 
Aqueles que amam os outros também serão amados. 
Tratem outros países como seus, 
tratem outras famílias como a sua, 
e tratem outras pessoas como tratam a si mesmos.

(Mo-Tzu, Pensador Chinês, 480?-390? a.C)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Pensamentos soltos - S. João da Cruz



Para vir a apreciá-lO por inteiro,
não queira apreciar mais nada;
Para vir a possuí-lO por inteiro,
não queira possuir mais nada;
Para vir a sê-lO por inteiro,
não queira ser mais nada;
Para vir a sabê-lO por inteiro,
não queira saber mais nada.

São João da Cruz
(Subida ao Monte Carmelo)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sri Ramakrisha e Jesus



Era de madrugada. Shri Ramakrishna estava acordado e meditava na Mãe Divina. Devido à enfermidade os devotos se viam privados do canto do nome da Mãe Divina.
Shri Ramakrishna estava sentada no pequeno divã. Perguntou a M., “Bem, por que tenho esta doença?”
M.: “As pessoas não se atreverão a se aproximar do senhor a não ser que se assemelhe a elas em todos os aspectos, mas ficam deslumbradas em descobrir que, apesar de sua doença, o senhor só pensa em Deus.”
Mestre (sorrindo): “Balaram também disse, ‘Se até o senhor pode ficar doente, por que temos de nos surpreender com nossas enfermidades?’ Lakshmana ficou admirado ao ver que Rama não podia levantar o arco por causa de Seu pesar por Sita. ‘Até Brahma chora, apanhado na armadilha dos cinco elementos.’ ”
M.: “Jesus cristo também chorou como um homem comum, com o sofrimento de seus devotos.”
Mestre: “Como foi isso?”
M.: “Havia duas irmãs, Maria e Marta que tinham um irmão, Lázaro. Os três eram devotos de Jesus. Lázaro morreu. Jesus estava a caminho de sua casa, quando uma das irmãs, Maria, correu para recebê-lo. Caiu a seus pés e disse chorando, ‘Senhor, se estivesse estado aqui, meu irmão não teria morrido!’ Jesus chorou ao vê-la chorar.
“Jesus foi à sepultura de Lázaro e o chamou pelo nome. Imediatamente Lázaro voltou à vida e saiu andando da tumba.
Mestre: “Mas não posso fazer estas coisas.”
M.: “È porque o senhor não quer. Esses são milagres, por isso, o senhor não está interessado neles. Essas coisas atraem a atenção das pessoas para seus corpos. Elas então, não pensam em devoção verdadeira. É por isso que o senhor não faz milagres, mas há muitas semelhanças entre o senhor e Jesus Cristo.”
Mestre (sorrindo): “O que mais?”
M.: “O senhor não pede a seus devotos que jejuem ou façam outras práticas. Não prescreve regras duras e estritas a cerca de alimento. Os discípulos de Cristo não observaram o sabbath e por esta razão, os fariseus os censurava. Por conseguinte Jesus disse, ‘Fizeram bem em comer. Enquanto estiverem com o noivo, devem divertir-se.’ ”
Mestre: “O que isto quer dizer?”
M.: “Cristo quis dizer que enquanto os discípulos vivessem com a Encarnação de Deus, deviam celebrar. Por que estarem tristes? Mas quando Ele retornar à sua própria morada no céu, então dias viriam de tristezas e sofrimentos.”
Mestre (sorrindo): “Você encontra em mim algo que seja semelhante a Cristo?”
M.: “Sim, senhor. O senhor diz, ‘Os jovens ainda não foram contaminados por “mulher e ouro” e por isso; serão capazes de receber instrução. É como guardar leite num pote novo; o leite pode azedar se for guardado num pote onde tenha sido feita a coalhada.’ Cristo também falou assim.”
Mestre: “O que ele disse?”
M.: “ ‘Se o vinho novo for mantido numa garrafa velha, ela pode rachar. Se um tecido velho for remendado a um novo, o velho se rasgará.’
“Além disso diz que o senhor e a Mãe são Uno. A mesma coisa disse Cristo, ‘Eu e Meu pai somos um’.”
Mestre (sorrindo): “Há mais?”
M.: “O senhor nos diz, ‘Deus certamente escutará se alguém O chamar com sinceridade. Assim, também, Cristo disse, ‘Bata na porta e ela lhe será aberta.’ ”
Mestre: “Bem, se Deus encarnou-Se de novo, será esta uma manifestação fracionária, parcial ou completa? Alguns dizem que se trata de uma manifestação completa.”
M.: “Senhor, não compreendo muito bem o significado completo ou parcial de uma Encarnação mas entendi como o senhor explicou, a idéia de um buraco redondo no muro.”
Mestre: “Fale-nos sobre isto.”
M,: “Há um buraco redondo no muro. Através dele pode-se ver parte do campo que se estende  do outro lado. Assim também, através do senhor pode-se ver parte do Deus Infinito.”
Mestre: “É verdade. Pode-se ver cinco ou seis milhas do campo de uma só vez.”M. terminou o banho no Ganges e foi para o quarto do Mestre. Eram oito horas da manhã. Pediu a Latu que desse ao Mestre o prasad de arroz de Jagannath. O Mestre ficou perto dele e disse, “Tome este prasad regularmente. Aqueles que são devotos de Deus não comem nada antes de comer o prasad.”
M.: “Ontem tomei um pouco de prasad de Jagannath na casa de Balaram Babu. Como um ou dois grãos diariamente.”
M. saudou o Mestre e despediu-se. Shri Ramakrishna disse-lhe afetuosamente, “Venha amanhã bem cedo. O sol quente da estação chuvosa faz mal à saúde.” 


(Evangelho de Ramakrishna)

Segunda-feira, 31 de agosto de 1885