quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Poemas - Kabir Das



LXXVI

ABRE teus olhos de amor, e contempla
Aquele que permeia todo este mundo!
Observa-o bem, e reconhece teu próprio país.
Quando encontrares o verdadeiro Guru,
Ele despertará teu coração;
Ele te revelará o segredo do amor
e do desprendimento, e então,
sem dúvida nenhuma saberás
que Ele transcende este universo.
Esse mundo é a Cidade da Verdade, o labirinto
de seus caminhos fascina o coração:
Podemos alcançar nosso destino sem jamais
percorrer a estrada, tal é o jogo sem fim.
Onde o círculo de múltiplas alegrias
gira à sua volta continuamente,
aí a Felicidade Eterna engendra lances.
Quando conhecermos isto, estará terminado
todo nosso esperar e recusar.
Então deixará de nos queimar o fogo da cupidez.
Ele é o repouso Último e Infinito:
Ele espalhou as formas de seu amor
pelo mundo inteiro.
Dessa Luz que é Verdade, torrentes
de novas formas emergem perpetuamente;
e Ele permeia essas formas.
Todos os bosques e jardins e alvoredos sobejam
flores, e o ar estala em cascatas de alegria.
Que maravilhosa trama o cisne avança aí!
Os sons da música não tocada turbilhonam
à volta da Infinita Verdade.
Brilha no centro o trono do ilimitado,
onde repousa o grandioso Ser.
Milhares de sóis empalidecem, envergonhados
ante o fulgor de um só pelo de Seu corpo.
Que doces melodias deixa escapar
a harpa do caminho!,
suas notas transpassam o coração:
Aí a fonte eterna combina sem cessar 
os eflúvios vitais do nascimento e da morte.
Como podem chamar Nada àquele que é a Verdade
das verdades?, Àquele no qual 
encontra-se todas as verdades!

Em seu interior, evolui a criação,
e isso está além de qualquer filosofia,
pois filosofia nenhuma pode alcançá-Lo:
Existe um mundo infinito, ó irmão!
e encontra-se aí o Ser Sem Nome,
do qual nada se pode dizer.
Esse mundo é conhecido apenas daquele
que de fato o alcançou:
é diverso de tudo o que já se disse e ouviu.
Lá não se conhece nem forma, nem corpo,
nem extensão: como posso explicar-te o que é?
Trilha o Caminho do Infinito aquele sobre o qual
recaem as graças do Senhor: liberta-se
da vida e da morte aquele que O alcança.
Kabir diz: "Não se traduz em palavras saídas
dos lábios, não se pode escrever em papel:
É como se um mudo provasse uma iguaria:
como poderia explicá-la?

Kabir

sábado, 10 de setembro de 2011

A religião e a ciência - Albert Einstein

De início, portanto, em vez de perguntar o que é religião,
eu preferiria indagar o que caracteriza as aspirações de uma
pessoa que me dá a impressão de ser religiosa: uma pessoa
religiosamente esclarecida parece-me ser aquela que, tanto
quanto lhe foi possível, libertou-se dos grilhões, de seus
desejos egoístas e está preocupada com pensamentos,
sentimentos e aspirações a que se apega em razão de seu
valor suprapessoal. Parece-me que o que importa é a força
desse conteúdo suprapessoal, e a profundidade da convicção
na superioridade de seu significado, quer se faça ou não
alguma tentativa de unir esse conteúdo com um Ser divino,
pois, de outro modo, não poderíamos considerar Buda e
Spinoza como personalidades religiosas. Assim, uma pessoa
religiosa é devota no sentido de não ter nenhuma dúvida
quanto ao valor e eminência dos objetivos e metas
suprapessoais que não exigem nem admitem fundamentação
racional. Eles existem, tão necessária e corriqueiramente
quanto ela própria. Nesse sentido, a religião é o
antiquíssimo esforço da humanidade para atingir uma clara e
completa consciência desses valores e metas e reforçar e
ampliar incessantemente seu efeito. Quando concebemos a
religião e a ciência segundo estas definições, um conflito
entre elas parece impossível. Pois a ciência pode apenas
determinar o que é, não o que deve ser, está fora de seu
domínio, todos os tipos de juízos de valor continuam sendo
necessários. A religião, por outro lado, lida somente com
avaliações do pensamento e da ação humanos: não lhe é lícito
falar de fatos e das relações entre os fatos. Segundo esta
interpretação, os famosos conflitos ocorridos entre religião
e ciência no passado devem ser todos atribuídos a uma
apreensão equivocada da situação descrita.
Um conflito surge, por exemplo, quando uma comunidade
religiosa insiste na absoluta veracidade de todos os relatos
registrados na Bíblia. Isso significa uma intervenção da
religião na esfera da ciência; é aí que se insere a luta da
Igreja contra as doutrinas de Galileu e Darwin. Por outro
lado, representantes da ciência tem constantemente tentado
chegar a juízos fundamentais com respeito a valores e fins
com base no método científico, pondo-se assim em oposição a
religião. Todos esses conflitos nasceram de erros fatais.
Ora, ainda que os âmbitos da religião e da ciência sejam em
si claramente separados um do outro, existem entre os dois
fortes relações recíprocas e dependências. Embora possa ser
ela o que determina a meta, a religião aprendeu com a
ciência, no sentido mais amplo, que meios poderão contribuir
para que se alcancem as metas que ela estabeleceu. A
ciência, porém, só pode ser criada por quem esteja
plenamente imbuído da aspiração e verdade, e ao
entendimento. A fonte desse sentimento, no entanto, brota na
esfera da religião. A esta se liga também a fé na
possibilidade de que as regulações válidas para o mundo da
existência sejam racionais, isto é, compreensíveis à razão.
Não posso conceber um autêntico cientista sem essa fé
profunda. A situação pode ser expressa por uma imagem: a
ciência sem religião e aleijada, a religião sem ciência e
cega.

Einstein - Sobre a liberdade