sexta-feira, 29 de abril de 2011

Tua Alma - Julio Polidoro

Tua Alma

Entra em minha casa, caminha um tanto mais... e não te impressione este pátio ermo e ressecado - ele é um sinal. 
Se queres conhecer minha casa, ignora este pátio ermo e ressecado: ele é um sinal.
Se fores capaz de prosseguir, vem então... percorre esta horta abandonada e estes jardins sem flores, eles sao outro aviso... se queres conhecer minha casa, esquece esta horta e estes jardins.
Vem, segue um tanto mais a inspiração que dirige teus passos e repudia os passos que querem dirigir teu coração pois, do contrário, serás incapaz de conhecer minha casa.
Sim, vem por esse pântano, ele esconde a chave que abrirá os portais de minha casa. 
Se fores capaz, atravessa o lamaçal, com o barro a tocar-te os joelhos... segue, se possível sem perguntar... o barro pode ocultar segredos... e em segredo te direi: "bem-vindo és à minha casa!"
E agora aqui estás, nesta planície, livre de toda paisagem. 
Uma planície repleta de nada por todos os lados. 
Se fostes capaz de chegar até aqui fecha agora teus olhos, pois aqui eles são desnecessários.
Deixa que a sensação que te invade te suspenda no vazio e entrega-te a ela... confia, porque estás próximo... agora despede os pensamentos, deixa que tua mente adormeça, porque em minha casa não entram nem pensamentos nem mente.
Abre assim teus verdadeiros olhos e exulta: minha casa és tu mesmo, livre de toda paisagem. Tu és a casa, vazia, sempre vazia, para que, permanentemente, transborde a luz que nela se reflete e a transpassa!
Tu és a casa! 
Tu és o espelho que se poliu até estampar a imagem do próprio Sol!

Postado por Júlio Polidoro

5 comentários:

Júlio Polidoro disse...

Prezado William,

vi com alguma surpresa que você atribui a autoria do texto "Tua alma" a Ibn Arabi. Isto é honroso demais mas o texto é de minha própria autoria! Tenho quatro livros de poesia publicados e sempre tive veia mísitca muito forte. Mas realmente não me incomoda que você tenha tido meu texto em tão alta conta!

Obrigado e um abraço.

Júlio Polidoro

William D. Sversutti disse...

Caro Júlio, já arrumei a autoria... gostaria de te pedir que me enviasse mais alguns poemas teus que eu os publicarei, de todo o coração... abraço

Júlio Polidoro disse...

Estimado amigo, enviarei outros poemas, com certeza! Me alegra que haja, neste mundo, irmãos como você, que ajudam, com sua energia positiva, a minimizar o desequilíbrio desse mundo fugaz, no qual a maioria vive como se fosse para sempre.
Grande e fraternal abraço! Shalom, as salam aleikum, namastê, paz, peace e tudo de bom que nem as palavras podem dizer, de coração também!

Júlio Polidoro disse...

A sarça é o ser

Nasceste com olhos invertidos.
Nascemos todos assim:
olhos mundanos para dentro,
olhos da alma para fora.

Portanto, se te disserem “cego”, cala-te.
Aquele que tem a sorte de notar tal inversão
pugilará com a própria sombra
até que a mesma se dissipe.

Não é teu destino fazer sombra
senão ser espelho do sol.
Cabe que revolvas teus olhos
até que o universo se alinhe
à visão fecunda da alma.

Se os homens soubessem
abandonavam excessivo fausto:
o que valem mil castelos
ante uma única estrela?
Se os homens soubessem
sentiriam que a sarça
é o sol ardente do espírito.

O que é a posse
senão sombra avistada por olhos inversos?

Na verdade sequer precisas destes olhos.
Revolve-os, até que caiam
e então verás as coisas como são.

Hoje senti o sol de minh’alma
em lapsos de segundos
que ainda não sei prolongar.
Graça ou conquista, não importa,
hoje senti a sarça ardente do meu coração,
a tocha inflada do amor se expandindo do meu peito
e acendendo milhares de piras e constelações!

Hoje, por frações de segundos,
minh’alma ocupou o mundo e seguiu além dele,
o universo aquietou-se no regaço do meu ser,
eu fui o universo e o universo fui eu,
até que segui além de onde
não existe nome, nem palavra.
Então eu não estava em mim, e era.
E sendo eu mesmo, seguia muito além de mim,
e do que fosse possível imaginar.

Hoje, o céu tornou-se meu tugúrio
e o sol regurgitou-se dos meu olhos bem abertos,
feito uma cascata de astros iluminando o desamparo.

Hoje, o Amado fez de meu casebre
o mais suntuoso palácio
e erigiu em meu rincão a mais alta torre,
para alinhar, aos meus olhos,
a bem-aventurada visão da Realidade.

Júlio Polidoro

Júlio Polidoro disse...

A sarça é o ser

Nasceste com olhos invertidos.
Nascemos todos assim:
olhos mundanos para dentro,
olhos da alma para fora.

Portanto, se te disserem “cego”, cala-te.
Aquele que tem a sorte de notar tal inversão
pugilará com a própria sombra
até que a mesma se dissipe.

Não é teu destino fazer sombra
senão ser espelho do sol.
Cabe que revolvas teus olhos
até que o universo se alinhe
à visão fecunda da alma.

Se os homens soubessem
abandonavam excessivo fausto:
o que valem mil castelos
ante uma única estrela?
Se os homens soubessem
sentiriam que a sarça
é o sol ardente do espírito.

O que é a posse
senão sombra avistada por olhos inversos?

Na verdade sequer precisas destes olhos.
Revolve-os, até que caiam
e então verás as coisas como são.

Hoje senti o sol de minh’alma
em lapsos de segundos
que ainda não sei prolongar.
Graça ou conquista, não importa,
hoje senti a sarça ardente do meu coração,
a tocha inflada do amor se expandindo do meu peito
e acendendo milhares de piras e constelações!

Hoje, por frações de segundos,
minh’alma ocupou o mundo e seguiu além dele,
o universo aquietou-se no regaço do meu ser,
eu fui o universo e o universo fui eu,
até que segui além de onde
não existe nome, nem palavra.
Então eu não estava em mim, e era.
E sendo eu mesmo, seguia muito além de mim,
e do que fosse possível imaginar.

Hoje, o céu tornou-se meu tugúrio
e o sol regurgitou-se dos meu olhos bem abertos,
feito uma cascata de astros iluminando o desamparo.

Hoje, o Amado fez de meu casebre
o mais suntuoso palácio
e erigiu em meu rincão a mais alta torre,
para alinhar, aos meus olhos,
a bem-aventurada visão da Realidade.

Júlio Polidoro