segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Confúcio e o Mortal - Chuang Tse



Confúcio contemplava a catarata Lu-Liang. 
A cortina de água tem a altura de dez homens em pé, um em cima do outro.
Depois da queda, a corrente impetuosa de águas espumantes se precipita ao longo de quarenta milhas, entre as rochas. 
Nem tartarugas, peixes ou crocodilos podiam nadar nesse turbilhão.
Viu, porém um homem nadando na torrente.
Crendo tratar-se de um suicida cansado dos sofrimentos da vida, mandou que seus discípulos o salvassem da morte.
A uns cem passos abaixo, porém, o homem saiu da água, sacudiu alegre os cabelos molhados e cantarolava.
Disse Confúcio:
Pensei que você fosse um espírito. 
Vejo, porém, que é mortal.
Diga-me, por favor, em que consistem a técnica e o método de sua natação?
Respondeu-lhe o mortal:

"Não sei. Instalei-me na terra,
enraizei-me no hábito do cotidiano; 
no desempenho recolhido do habitat diário,
 alojei-me na fluência da vida; 
aos poucos a fluência da vida se tornou o habitáculo da minha natureza
como a lei perfeita da regência do corpo. 
Caio na água, desço e subo com ela, na correspondência à sua doação. 
Não há técnica nem método."

Perguntou-lhe Confúcio:
O que significa instalar-se no hábito do cotidiano,
 alojar-se na fluência da vida,
tomar corpo na regência da lei perfeita?

Respondeu-lhe o homem:

"Sou camponês.
Nasci na terra.
Moro nela.
Isso se chama paz e recolhimento diário.
Da paz flui a vida.
Deixar fluir a vida no recolhimento diário é o hábito.
Isso se chama: ser.
Com o tempo, o ser toma corpo,
cresce como fruto da vida, prenhe de vigor.
Isso se chama: liberdade ou espírito.
É só isso, nada mais."

Chuang Tse

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Alma enamorada - São joão da Cruz



Alma Enamorada

A alma que está enamorada de Deus
não pretende vantagem ou prêmio algum
a não ser perder tudo e a si mesma
voluntariamente, 
por Deus,
e nisto encontra todo o seu lucro.
O morrer é lucro.
Quando uma alma no caminho espiritual
chegou a ponto de perder-se
de todas as vias e modos naturais
de proceder em suas relações com Deus,
e não mais O busca por meio de considerações,
ou formas, 
ou sentimentos,
ou quaisquer outros intermediários de criaturas ou sentidos,
mas ultrapassou tudo isto,
bem como toda a sua maneira pessoal,
tratando com Deus
e Dele gozando puramente em fé e amor,
então podemos dizer que, 
na verdade,
esta alma ganhou a seu Deus;
porque está verdadeiramente perdida a tudo quanto não é Ele,
e a tudo quanto ela é em si mesma.

São João da Cruz

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Filosofia Vedanta - Swami Vivekananda

“A FILOSOFIA VEDANTA”
Swami Vivekananda


(Conferência ante a Sociedade Filosófica de Graduados da Universidade de Harvard, em 25 de março de 1896)

             A filosofia vedanta, como atualmente se costuma chamá-la, compreende, na realidade, todas as diversas seitas existentes hoje em dia na Índia. Assim, pois, tem havido varias interpretações, às quais, no meu modo de ver, têm sido progressivas, começando pela dvaita ou dualista e terminando pela advaita ou monista. A palavra “vedanta” significa, literalmente, a finalidade dos Vedas, que são as escrituras dos hindus 1. No Ocidente, às vezes, por Vedas se quer dar a entender unicamente os hinos e os rituais, mas na atualidade estas partes já não se usam e correntemente na Índia, ao dizer Vedas, se subtende a vedanta. Todos nossos comentadores quando querem citar alguma passagem das escrituras, em geral, citam a vedanta, a qual tem para eles outro nome técnico: “srutis” 2. Agora, todos os livros conhecidos sob o nome de vedanta, não foram escritos inteiramente depois das partes ritualistas dos Vedas. Por exemplo, um deles, o Isha Upanishad, constitui o capitulo quadragésimo do Vada Yajur, uma das partes mais antigas dos Vedas. Outros Upanishads 3, formam as partes dos brahmanas ou escritos rituaistas e os demais são independentes, pois não estão compreendidos em nenhum dos brahmanas nem em outras partes dos Vedas; mas não há razão para supor que foram completamente independentes de outras partes, porque como bem sabemos, muitas destas se perderam totalmente e muitos dos brahmanas desapareceram. Portanto, é bem possível que os Upanishads independentes pertenceram a algum dos brahmanas que, no transcorrer do tempo, ficaram fora de uso, enquanto que se conservaram os Upanishads. Estes se chamam, também, livros da selva ou aranyakas.

1. Os Vedas se dividem em duas partes, a saber: karma-kanda e jnana-kanda; ou seja, a parte prática e a de conhecimento. Pertenceu a karma-kanda os famosos hinos e os rituais ou brahmanas. Os livros que tratam de questões espirituais, excluindo as cerimônias, se chamam Upanisjads e pertencem a jnana-kanda, aparte do conhecimento. Não é que todos os Upanishads foram compostos como parte separada dos Vedas, senão que alguns estão misturados com os rituais e ao menos um está no “samhita” ou parte dos hinos. Às vezes se aplica o termo Upanishads a livros não incluídos entre os Vedas; por exemplo, o Gita; mas em regra geral, se aplica aos tratados filosóficos disseminados entre os Vedas. Estes tratados têm sido colecionados e é chamado vedanta.
2. O termo sruti significa “o que se vê” e embora inclua a totalidade da literatura védica, é aplicado pelos comentadores principalmente aos Upanishads.
3. Se diz que os Upanishads são cento e oito. Não se conhecem, com certeza, suas datas; a única certeza é que são mais antigos que o movimento budista. Embora alguns Upanishads menores contenham alusões que indicam sua data posterior, ele não prova que o tratado seja de data mais recente, pois em muitíssimos casos ocorre, na literatura sânscrita, que a substância de um livro, embora de data muito antiga, receba um revestimento, por assim dizer, de sucessos posteriores, em mãos de sectários, para exaltar a sua seita particular.

             Por conseguinte, a vedanta constitui praticamente as escrituras dos hindus e todos os sistemas ortodoxos de filosofia hão de aceita-la como fundamento. Até os budistas e os jainos, quando convém a seu propósito, citam como autoridades passagens da vedanta. Na Índia, todas as escolas de filosofia, embora pretendam estar fundadas nos Vedas, têm dado diferentes nomes a seus sistemas. A última, o sistema de Vyasa, se baseou nas doutrinas dos Vedas mais que nos sistemas anteriores e intentou harmonizar as filosofias precedentes, tais como a sankhya e a nyaya,com as doutrinas da vedanta. De maneira que chamam-na especialmente filosofia vedanta; e os sutras ou aforismos de Vyasa, representam, na Índia moderna, a base da filosofia vedanta.
             Por outro lado, os aforismos de Vyasa têm sido diversamente explicados por diferentes comentadores. Em geral, há na Índia três tipos de comentadores 4, e de suas interpretações têm surgido três sistemas de filosofia e três seitas, uma é dualista ou dvaita; a segunda é a parcialmente monista ou vishishtadvaita, e a terceira, a monista, ou advaita. Destas, a dualista e a parcialmente monista, são as preferidas. Em troca, a monista absoluta tem relativamente poucos adeptos.




4. Os comentários pertencem a várias classes, tais como o Bhashya, o Tika, o Tippani, o Churni, etc.; dos quais todos, exceto o Bhashya, são explicações do texto ou de palavras difíceis nele mesmo. O Bhashya não constitui propriamente um comentário, senão a elucidação de um sistema de filosofia extraído dos textos, cujo objetivo não consiste em explicar as palavras, senão de extrair uma filosofia. Assim, o escritor de um Bhashya expande seu próprio sistema, tomando os textos como autoridade para ele mesmo.

             Muitos comentários foram feitos sobre a vedanta e suas doutrinas acham sua expressão final nos aforismos filosóficos de Vyasa. Este tratado, chamado “Uttara Mimansa”, constitui a autoridade normal do vedantismo, mais até, a exposição mais autorizada das escrituras hindus. As seitas mais antagônicas se viram obrigadas, por assim dizer, a tomar os textos de Vyasa e harmoniza-los com sua própria filosofia. Até em tempos muito antigos, os comentadores da filosofia vedanta, constituíram três celebradas seitas hindus de “dualistas”, “parcialmente monistas” e “monistas”. Talvez os antigos comentários se perderam, mas em tempos modernos, têm sido restabelecidas por comentadores pós-budistas como Shankara, Ramanuja e Madhava. Shankara restabeleceu a forma monista; Ramanuja, a forma parcialmente monista do antigo comentador Bodhayana, e Madhava a forma dualista. Na Índia, as seitas diferem principalmente em sua filosofia; a diferença entre os rituais é ligeira, já que têm todas a mesma base filosófica e uma mesma religião.
             Tratarei de explicar-lhes as idéias sustentadas por estas três seitas, porém, antes de prosseguir, quero fazer presente que estes diferentes sistemas da vedanta têm uma psicologia comum, a psicologia do sistema sankhya, muito parecida à dos sistemas nyasa e vaisheshika, salvo pequenos detalhes.
             Todo os vedantistas coincidem em três pontos: crêem em Deus, nos Vedas como revelados e nos ciclos. Já consideramos os Vedas. O conceito dos ciclos é o seguinte: A matéria do universo inteiro é resultado de uma matéria principal chamada akasha e toda força, seja de gravitação, de atração ou de repulsão ou de vida, é o resultado de uma força principal chamada prana. Prana atuando sobre akasha, cria ou projeta o universo 5. No princípio de um ciclo, akasha está imóvel, imanisfestado. Logo prana começa a atuar, criando de akasha formas mais e mais densas, tais como as plantas, animais, homens, estrelas, etc. Depois de um incalculável período de tempo, cessa esta evolução e se inicia a involução, tornando tudo, através de formas cada vez mais finas e sutis, ao akasha e prana originais, ao que segue um novo ciclo. No entanto existe algo mais que akasha e prana; pois ambos podem resolver-se em um terceiro chamado “mahat”, ou mente cósmica. Esta não cria a akasha nem a prana, senão que se transforma neles.

5. A palavra “criação”, em espanhol, significa exatamente, em sânscrito, “projeção”, pois não há seita alguma na Índia que dê à criação, o mesmo sentido que no Ocidente, ou seja, algo que procede do nada. O que entendemos por criação, é a projeção de algo que já existia.

             Trataremos agora dos conceitos de mente, alma e Deus. Segundo a psicologia sankhya, universalmente aceita, em percepção (por exemplo, no caso da visão), existem ante todos os instrumentos da visão, ou seja, os olhos. Por detrás dos instrumentos, os olhos, está o órgão da visão ou “indriya” (o nervo ótico e seus centros), que não é um instrumento externo, mas sem o qual os olhos não vêem. Para a percepção se necessita de algo mais. A mente ou “manas”, precisa agregar-se ao órgão; além disto, a sensação leva ao intelecto ou “buddhi”, o estado determinativo e reativo da mente. Ao proceder a reação de buddhi, brilha com ela o mundo externo e o egoísmo. Aqui está, então, à vontade; mas ainda falta algo. Da mesma maneira que em um quadro, por estar composto de sucessivos motivos de luz, estes hão de estar unidos em algo fixo para formar um todo, assim também todas as idéias da mente se hão de reunir e projetar-se sobre algo fixo, relativamente ao corpo e a mente, ou seja, no que se chama alma, purusha ou Atman.
             Segundo a filosofia sankhya, o estado reativo da mente, chamado buddhi ou intelecto, é o resultado, a mudança ou certa manifestação de mahat ou mente cósmica. Mahat modifica em pensamento vibrante; este, por sua vez, se transforma parcialmente em órgãos e parcialmente em partículas finas de matéria. Da combinação de tudo isto, se produz o universo inteiro. A sankhya concebe até depois de mahat, um estado chamado “avyaktam” ou imanifestado, no qual a manifestação da mente não está presente, senão que sé existem as causas. É chamado também de “prakriti”; além deste prakriti e eternamente separado do mesmo, está purusha, a alma de sankhya, a qual carece de atributos e é onipresente. Purusha não é quem atua, é o expectador. Para explicar a pusha, se emprega o exemplo do cristal; diz-se que é como o cristal incolor, por detrás do qual se colocam objetos de diferentes cores; então aparece como colorido, embora, na realidade, não esteja.
             Os vedantistas rechaçam as idéias da sankhya sobre a alma e a natureza. Declaram que existe entre estas um abismo, sobre o qual há uma ponte. Por um lado, o sistema sankhya chega à natureza e logo, prontamente, saltará para o outro lado e chegará à alma, que está inteiramente separada da natureza. Como pode estas diferentes cores, como a sankhya as chama, atuar sobre a alma, a qual, por natureza, é incolor? Por isso os vedantistas afirmam, desde o princípio, que esta alma e esta natureza são uma 6. Até os vedantistas dualistas admitem que Atman ou Deus é não somente a causa eficiente deste universo, mas também a causa material do mesmo. Porém só o dizem em palavras, pois na realidade não o entendem assim e tratam de escapar de suas próprias conclusões dizendo: neste universo há três existências; Deus, alma e natureza. A natureza e a alma são, por assim dizer, o corpo de Deus e neste sentido se pode afirmar que Deus e o universo inteiro são um. Mas esta natureza e todas estas várias almas se mantêm diferentes umas das outras por toda a eternidade. Se manifestam unicamente no princípio do ciclo; ao terminar este, voltam ao estado puro e se mantêm no mesmo. Os advaitistas, monistas, rechaçam esta teoria da alma e como têm como apoio quase toda série dos Upanishads, constroem sobre eles sua filosofia inteira. Todos os livros contidos nos Upanishads têm um só objetivo, uma só tarefa, demonstrar o seguinte tema: “Assim como pelo conhecimento de um torrão de argila conhecemos toda a argila, conhecemos toda a argila do universo, que quer dizer, conhecendo-o, nos permite conhecer todo o universo?”. A idéia do advaitista é generalizar o universo inteiro em uma única coisa; essa coisa que é, na realidade, a totalidade do universo. Afirmam que todo este universo é um só ser que se manifesta por meio de todas estas múltiplas formas. Admitem que existe o que a sankhya chama natureza; mas dizem que a natureza é Deus. Este Ser, “Sat”, é o que se converteu em tudo isto, o universo, o homem, a alma e tudo o que existe. A mente e mahat não são senão manifestação de Sat. Mas aqui surge uma dificuldade: tal conceito equivale ao panteísmo. Como pode ocorrer que Sat, que é imutável, como eles mesmos admitem (pois todo o absoluto é imutável), se transforme em algo mutável ou perecível?

6. A vedanta e a filosofia sankhya se opõe uma a outra. O Deus da vedanta se desenvolveu do purusha e da sankhya. Todos os sistemas tomam a psicologia desta última. Tanto a vedanta como a sankhya crêem na alma infinita, só que a última crê na existência de muitas almas. Segundo a sankhya, este universo não requer explicação alguma do exterior. A vedanta crê que existe a alma única, que aparece como muitas; e nós construímos sobre a análise da sankhya.

             Os advaitistas têm uma teoria que chamam “vivarta vada” ou manifestação aparente. Segundo os dualistas e os sankhyas, a totalidade deste universo é a evolução da natureza primária. Segundo os advaitistas e alguns dualistas, a totalidade deste universo evolui de Deus; e de acordo com os verdadeiros advaitistas, os seguidores de Shankaracharya, o universo inteiro é a evolução aparente de Deus. Deus é a causa material deste universo, não em realidade, mas só de aparência. A célebre ilustração empregada é a corda e a serpente; a corda parece uma serpente, mas, na realidade, não é. A corda não se transformou em serpente. De igual modo, este universo, tal qual existe, é esse Ser. Não muda; todas as mudanças que vemos são só aparentes e causados por “desha”, “kala” e “nimita” (espaço, tempo e causa) ou, de acordo com uma generalização mais elevada, por “nama” e “rupa” (nome e forma). O nome e a forma de uma coisa são o que a diferencia de outra. Nome e forma são a única causa da diferença; na realidade, são uma e a mesma coisa.
             Por outro lado os vedantistas dizem: não é que haja algo como fenômeno e algo como número. A corda se transforma em serpente só aparentemente; uma vez que cessa essa ilusão, a serpente desaparece. Quando alguém é ignorante, vê o fenômeno e não vê a Deus. Enquanto vê a Deus, o universo se desvanece inteiramente. A ignorância ou maia, segundo se a chama, é a causa desse fenômeno em que o Absoluto, o Imutável, confundem-se com o universo manifestado. Maia não é zero absoluto, nem tampouco inexistência. Não é inexistência porque isto só pode se dizer do Absoluto, do Imutável e neste sentido, maia é inexistência. Assim mesmo, tampouco se pode dizer que seja inexistência, porque, se o fosse, não poderia produzir o fenômeno. De maneira que não é uma coisa nem outra; na filosofia vedanta se chama “anirvachaniya”, o inexpressável.
             Maia, portanto, é a causa real deste universo. Maia dá nome e forma a matéria que ministra Brahman ou Deus e aparece logo que este último se transforma em tudo isto. Os advaitistas, portanto, não aceitam a alma individual; dizem que as almas individuais são criadas por maia e que na realidade, não podem existir. Se a existência é uma só, como pode ser que eu seja um, cada um de vós um e assim por diante? Todos somos um e a causa do mal é a percepção da dualidade. Tão logo como começo a me sentir separado deste universo chega, em seguida, o temor e a dor. “De onde um olha o outro, um vê o outro; isso é pequenez. Onde um não vê o outro, não olha o outro, isto é maior, isso é Deus; ali está a felicidade perfeita. Nas coisas pequenas não há felicidade”. 
             De maneira que, de acordo com a filosofia advaita, esta diferenciação da matéria, estes fenômenos, ocultam por um tempo, digamos assim, a verdadeira natureza do homem; mas este, na realidade, não muda o mínimo. O verme mais vil, ou mesmo o ser humano mais elevado estão presentes na mesma natureza divina. A forma do verme é a mais inferior e nela maia encobre mais a divindade; a forma mais elevada é aquela em que a divindade está menos oculta. Por detrás de todas as coisas existe a mesma divindade e isto nos dá a base da moralidade. Não prejudiqueis a outro; ama a todos como a ti mesmo. Disto nasce também o princípio da moralidade advaita, que tem sido compendiado na expressão: própria abnegação. O advaita diz: este pequeno eu personalizado é a causa de toda minha desgraça; este pequeno eu individualizado que me faz diferente dos demais seres, traz ódio, ciúmes e desgraças, lutas e todos os demais males; quando abandonarmos tal idéia, toda luta cessará e se desvanecerá todo mal-estar. Portanto, devemos abandona-la; temos de estar dispostos a dar nossas vidas pelos seres mais inferiores.
             Quando o homem está disposto a dar sua vida até por um mísero inseto, alcançou a perfeição a qual aspira o advaita; nesse instante o véu da ignorância cai e sente sua própria natureza. Até nesta vida sentirá que é uno com o universo. Por um tempo, por assim dizer, a totalidade deste mundo fenomenal desaparecerá para ele e realizará o que ele é. Não obstante, enquanto se mantiver o carma desse corpo, terá que viver. Nesse estado em que o véu se desvaneceu e, contudo, se conserva o corpo por algum tempo, é o que os vedantistas chamam “jivanmukti”, a liberdade em vida. Quem se deixa enganar durante algum tempo por uma miragem, se um dia esta se desvanecer, quando se produzir novamente no dia seguinte ou no futuro, já não se iludirá mais.
             Antes que a miragem se produza pela primeira vez, o homem não poderá distinguir entre a realidade e a decepção; mas uma vez desvanecida, enquanto possuir órgãos e olhos verá a imagem, mas já não será iludido. Terá captado a sutil distinção entre o mundo atual e a miragem. Assim, enquanto o vedantista compreende sua própria natureza, o mundo inteiro se desvanece para ele; voltará de novo, mas há não será o mesmo mundo de sofrimento. A prisão dolorosa terá se transformado em Sat, Chit, Ananda; ou seja, Existência absoluta, Conhecimento absoluto, Bem-aventurança Absoluta. Consegui-lo é o que procura a filosofia advaita.


obtido em:


Pensamentos soltos - Swami Vivekananda

A pureza e a caridade não são possessões exclusivas de nenhuma igreja do mundo e cada sistema produz homens e mulheres de ordem mais elevada. Na presença deste fato evidente, se alguém sonha com a exclusiva sobrevivência de sua própria religião e da destruição das outras, compadeço-me dele, do fundo do meu coração e o faço notar que na bandeira de cada religião logo se escreverá: “Ajuda, e não luta”, “Assimilação, e não destruição”, “Harmonia e paz, e não distinção”.

Swami Vivekananda

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Oração - Adoro-te, recôndito Eu do universo - Pietro Ubaldi


Adoro-te, recôndito Eu do universo, alma do Todo, 
Meu Pai e Pai de todas as coisas,
minha respiração e respiração de todas as coisas.
Adoro-te, indestrutível essência, 
sempre presente no espaço, no tempo e além, no infinito.
Pai, amo-te, mesmo quando Tua respiração é dor, 
porque Tua dor é amor; mesmo quando Tua Lei é esforço, 
porque o esforço que tua Lei impõe é o caminho das ascensões humanas.

Pai, mergulho em Tua potência, nela repouso e me abandono, 
peço à fonte o alimento que me sustente.
Procuro-te no âmago onde Tu estás, de onde me atrais. 
Sinto-Te no infinito que não atinjo e donde me chamas. 
Não Te vejo e, no entanto, ofuscas-me com Tua luz; 
não Te ouço, mas sinto o tom de Tua Voz; 
não sei onde estás, mas encontro-Te a cada passo, 
esqueço-Te e Te ignoro, no entanto, ouço-Te em toda a minha palpitação. 

Não sei individuar-Te, mas gravito em torno de Ti, 
como gravitam todas as coisas, em busca de Ti, centro do universo.
Potência invisível que diriges os mundos e as vidas, 
Tu estás em Tua essência acima de toda a minha concepção. 
Que serás Tu, que não sei descrever nem definir, 
se apenas o reflexo de Tuas obras me enceguece? 
Que serás Tu, se já me assombra a incomensurável complexidade desta Tua emanação, 
pequena centelha espiritual que me anima integralmente? 

O homem Te busca na Ciência, invoca-Te na dor, 
Te bendiz na alegria. 
Mas na grandiosidade de Tua potência, 
como na bondade de Teu amor, 
estás sempre além, 
além de todo o pensamento humano, 
acima das formas e do devenir, 
um lampejo do infinito.

No ribombar da tempestade está Deus; 
na carícia do humilde está Deus; 
na evolução do turbilhão atômico, 
na arrancada das formas dinâmicas, 
na vitória da vida e do espírito, está Deus. 

Na alegria e na dor, 
na vida e na morte, 
no bem e no mal, está Deus; 
um Deus sem limites, 
que tudo abarca, 
estreita e domina, 
até mesmo as aparências dos contrários, 
que guia para seus fins supremos.

E o ser sobe, de forma em forma, ansioso por conhecer-Te, 
buscando uma realização cada vez mais completa de Teu pensamento, 
tradução em ato de Tua essência.
Adoro-Te, supremo princípio do Todo, 
em Teu revestimento de matéria, 
em Tua manifestação de energia; 
no inexaurível renovar-se de formas 
sempre novas e sempre belas; 

eu Te adoro, conceito sempre novo, 
bom e belo, 
inesgotável Lei animadora do universo. 
Adoro-Te grande Todo, 
ilimitado além de todos os limites de meu ser.
Nesta adoração, aniquilo-me e me alimento, 
humilho-me e me incendeio; 
fundo-me na Grande Unidade, 
coordeno-me na grande Lei, 
a fim de que minha ação seja sempre 
harmonia, ascensão, oração, amor."

A Grande Síntese - Cap 50

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Poemas - Savitri - Excerto - Sri Aurobindo


Se no Vazio sem significado a criação surgiu.
Se de uma força inconsciente a Matéria nasceu.
Se a vida pode se erguer na árvore inconsciente.
E o encanto verde penetrar nas folhas esmeraldinas.
E seu sorriso de beleza desabrochar na flor.
E a sensação pode despertar no tecido, no nervo e na célula.
E o Pensamento apossar-se da matéria cinzenta do cérebro.
E a alma espiar de seu esconderijo através da carne.
Como não poderá a luz ignota se lançar sobre o homem.
E poderes desconhecidos emergirem do sono da Natureza?
Mesmo agora insinuações de uma Verdade luminosa como estrelas,
Erguem-se no esplendor da mente lunar da ignorância;
Mesmo agora o toque imortal do Amante sentimos,
Se a porta da câmara apenas estiver entreaberta,
O que então pode impedir Deus de furtar-se para dentro,
Ou quem pode proibir seu beijo na Alma adormecida?

Sri Aurobindo

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Poemas - Forma - Sri Aurobindo


Forma

Oh adorador do infinito sem forma,
Não rejeites a forma, é Ele quem vive nela.
Cada finito é essa Infinitude
Sua velada alma de puro deleite entesourada.
A Forma, em seu coração de recôndito silêncio
Esconde o significado de Seu mistério,
A Forma é a morada assombrosa da eternidade,
Uma caverna do Imortal Eremita.

Há uma beleza nas profundezas de Deus,
Há um milagre do Maravilhoso
Que constrói o universo para sua habitação.
O Uno, em Sua glória inumerável,
Explodindo em forma e cor como uma rosa,
Compele as grandes pétalas do mundo a se abrirem.

Sri Aurobindo

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Da caridade - Espírita


A caridade é a lei suprema do Cristo: "Amai-vos uns aos outros como irmãos; - amai ao vosso próximo como a vós mesmos; - perdoai aos vossos inimigos; - não façais aos outros o que não quereríeis que vos fizessem". Tudo isto se resume na palavra Caridade.
A caridade não consiste apenas na esmola. Há caridade por pensamentos, palavras e obras. 
É caridoso por pensamentos aquele que é indulgente para com as faltas dos eu próximo; 
caridoso por palavras o que nada diz que possa prejudicar ao seu próximo; 
caridoso por obras quem, na medida de suas forças, assiste seu próximo.
O pobre que reparte o seu pedaço de pão com um outro mais pobre do que ele é mais caridoso e tem mais méritos aos olhos de Deus do que aquele que dá do que lhe sobra, sem de nada se privar.
Quem quer que nutra contra seu próximo sentimentos de animosidade, de ódio, de ciúme e de rancor, falta à caridade; mente, se se diz cristão e ofende à Deus.
Homens de todas as castas, de todas as cores, sois todos irmãos, porquanto Deus a todos vos chama a si. Estendei-vos, pois, as mãos, seja qual for a maneira por que o adoreis, e não vos lanceis anátema uns aos outros, visto que o anátema é a violação da lei de caridade proclamada pelo Cristo.
Com o egoísmo, os homens vivem em luta perpétua; com a caridade viverão em paz. 
Só a caridade, servindo de base às suas instituições, lhes assegurará a felicidade neste mundo. 
Segundo as palavras do Cristo, só ela também lhes pode assegurar a felicidade, porque encerra implicitamente todas as virtudes que os podem conduzir à perfeição. 
Com a verdadeira caridade, tal como a ensinou e praticou Jesus, nem ciúme, nem maledicência, nem apego exagerado aos bens deste mundo. 
Eis por que o Espiritismo cristão tem por máxima: "Fora da caridade não há salvação".

Allan Kardek - Máximas extraídas dos ensinos dos espíritos - 55-60

domingo, 8 de julho de 2012

Onde está o Tao? - Chuang Tse



Onde está o Tao?

Mestre Tung Kwo perguntou a Chuang: "Mostre-me onde pode o Tao ser encontrado"
Respondeu Chuang Tzu:
"Não há lugar onde ele não possa ser encontrado."
O primeiro insistiu:
"Mostre-me, pelo menos, algum lugar preciso onde o Tao pode ser encontrado".
"Está na formiga", disse Chuang.
"Ele está em algum dos seres inferiores?"
"Está na vegetação do pântano".
"Pode você prosseguir na escala das coisas?"
"Está no pedaço de taco".
"E onde mais?"
"Está neste excremento".
Com isto, Tung Kwo nada mais podia dizer.
Mas Chuang continuou:

"Nenhuma de suas perguntas é pertinente.São como perguntas de fiscais no mercado, controlando o peso dos porcos, espetando-os nas suas partes mais tenras. Por que procurar o Tao examinando "Toda escala do Ser", como se o que chamássemos "mínimo" possuísse quantidade inferior do Tao? O Tao é Grande em tudo, Completo em tudo, Universal em tudo, Integral em tudo. Estes três aspectos são distintos, mas a Realidade é o Uno. Portanto, vem comigo ao palácio do Nenhures onde todas as muitas coisas são uma só: lá, finalmente, poderíamos falar do que não tem limites nem fim. Vem comigo à terra do Não-agir: O que diremos lá - que o Tao é a simplicidade, a paz, a indiferença, a pureza, a harmonia e a tranquilidade? Todos estes nomes deixam-me indiferente pois suas distinções desapareceram. Lá minha vontade não tem alvo. Se não está em parte nenhuma, como me aperceberei dela? Se ela vai e volta, não sei onde repousa. Se vagueia aqui e ali, não sei onde terminará. A mente permanece instável no grande Vácuo. Aqui, o saber mais elevado é ilimitado. O que concede às coisas sua razão de ser, não pode limitar-se pelas coisas. Assim, quando falamos em limites, ficamos presos às coisas delimitadas. O limite do ilimitado chama-se "plenitude". O ilimitado do limitado chama-se "vazio". O Tao é a fonte de ambos. Mas não é, em si, nem a plenitude nem o vazio. O Tao produz tanto a renovação quanto o desgaste, mas não é nem a renovação nem o desgaste. Produz o ser e o não-ser, mas não é nem um, nem outro. O Tao congrega e destrói, mas não é nem a totalidade nem o vácuo.

(Chuang Tse - xxii, 6)

Nosso supremo lar - Sufi


A terra de nosso supremo lar
É uma terra de flores sem espinhos:
Não se permitem ali as atras florestas do medo
Nem se semeia jamais a Dor.

O riacho do amor corre ali sem cessar,
A criação é um deslumbramento
E visões celestiais consolam a terra
Enquanto torrentes imemoriais alegram os olhos.

Ali toda oração é auto-suficiente,
Ninguém regateia dádivas,
A vida é feita de verdade,
E desconhece a máscara da ilusão.

Proscrito está o egoísmo,
E vedados os pensamentos personalizados,
Senhor algum governa, servo algum obedece,
Sombra alguma empana a Divina Luz.

Não é um arroubo poético
Esse mundo de amor e êxtase
Que, no fundo de cada coração,
Espera apenas ser descoberto.

Poema sufi - Dilip Kumar Roy - Peregrinos das estrelas

terça-feira, 26 de junho de 2012

O grande rio passa silencioso - Buda




Aprende isto no curso da torrente:
No barranco ou no abismo da montanha,
Os riachos correm com grande ruído
o grande rio passa silencioso.

Bem fortemente ressoa a caixa vazia:
o que está cheio está sempre calmo;
assim, um vaso cheio até a metade é o tolo,
assim, um lago cheio é o sábio.
...
Aquele que sabe, cujo eu está domado,
embora conhecendo, fala pouco:
esse sábio estima a sabedoria
Esse sábio obtém também a sabedoria.

Buda - Suttanipata - 720-723

Pensamentos soltos - Saadi de Shiraz

Cada respiração contém duas bênçãos: a vida na inspiração e a rejeição do ar viciado e inútil na expiração. Agradece a Deus, pois, duas vezes a cada respiração.

Saadi

quarta-feira, 9 de maio de 2012

poemas - William Blake - À manhã



À manhã

Ó sagrada virgem, de alvura adornada.
Abre os dourados umbrais do céu e sai,
Desperta a aurora inebriada no azul,
deixa a luz emergir de sua morada no leste
e esparge o suave orvalho que vem com o novo dia.
Ó luminosa manhã, saúda o sol
que qual um caçador cedo se levanta
e se alça sobre nossas colinas.
Escuta o Beija-flor, que a canção da primavera entoa
e a suave Cotovia, no terno ramo pousada 
que na aurora sibilante surge sobre os ondulantes trigais
regendo os refulgentes corais do sol,
trina, trina, trina,
deslizando nas asas da luz,
Escoando através do azul imenso
da concha celestial.

William Blake, com 11 anos

domingo, 6 de maio de 2012

poemas - Yunus Emre



Busca-O em teu mundo

Ainda que o mundo esteja impregnado de Deus,
ninguém alcança ver Seu mistério.
Se queres vê-Lo, busca-O em teu mundo,
descobrirás então que Ele não está distante.
Esta terra sobre a qual caminhas,
esta comida com que te alimentas,
se crês que são tuas, te equivocas.
O outro mundo se acha fora de minha vista,
a virtude é o que fica neste mundo.
A dor da ausência é demasiado amarga,
ninguém voltou uma vez que partiu,
mas o que vem a este vale partirá, sem remédio;
todo ser humano desta bebida tomará.
A vida é uma longa ponte
pela qual passam todos, velhos ou jovens;
pois vinde, vamos ser amigos,
a vida será mais fácil para nós,
amemos e que nos amem todos,
pois este mundo não fica para ninguém.
Se escutas e entendes as palavras de Yunus,
seguramente as aproveitarás:
este mundo não fica para ninguém.

Yunus Emre

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Sobre o pranayama - Adi Shankaracharya



"O esvaziamento da mente de toda a ilusão é a verdadeira rechaka (exalação). A percepção de que "Eu sou Atmã" é a verdadeira puraka (inalação). E a constante firmeza da mente nessa convicção é a verdadeira kumbhaka (retenção). Esse é o verdadeiro pranayama."

Shankara - Em B.K. S Iyengar - A luz do Ioga

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Poemas - Ibn Al-Farid


Bebemos à memória do Bem-amado
Um vinho que nos embriagou antes da criação da vinha.
É uma limpidez e não é água;
É uma fluidez e não é ar;
É uma luz sem fogo;
e um espírito sem corpo...
Não tenho senão minha alma;
Aquele que dá sua alma por amor não é pródigo.
Se minha destruição deve unir-me a Ti,
Oh!, faze que ela venha;
Que eu seja o teu resgate...
Tu tomaste meu coração, que é uma parte de mim.
Por que não tomas também o que sobrou de mim?
Não é completo o amor que deixa
 uma gota de sangue sequer no Bem-amado...
Foi um relâmpago que brilhou na planície,
ou foi Leila que, ao retirar seu véu,
Transformou o crepúsculo em aurora?
O amor é toda a vida.
É teu destino (e tua razão de ser) viver por ele e dele morrer.

Ibn Al-Farid

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ao meu filho



Ao meu filho Johann

Hoje quando tu me abraçastes e dormistes em meu colo
Tive a compreensão do porquê do infinito
E tudo fez sentido
Hoje quando deitastes em meu colo
Todos os segredos ainda ocultos que lutavam para aparecer em meu peito se revelaram
Entendi sem dizer uma palavra toda a ciência que buscara
Toda a física quântica e toda a religião
Toda a magia e alquimia
Toda a palavra não dita
Tu meu filho, quando lerdes estas palavras
Saibas que teu pai um dia despertou todo seu coração
Quando tu me abraçastes e deitastes no meu colo.
O amor que tu me destes fora o segredo que buscava nas palavras dos sábios
E tudo fez sentido.

WDS

segunda-feira, 26 de março de 2012

Poemas - Hafiz - Uma raiz em cada ato e criatura



Os olhos do sol estão pintando campos novamente.
Suas chicotadas com golpes precisos
são arrebatadoras através da terra.

Uma grande paleta de luz abraçou esta terra.

Hafiz, se apenas um pouco de argila e água
Misturados na tigela Dele
Pode produzir tais requintados aromas, vistas,
Músicas e formas rodopiantes,

Que maravilhas indizíveis devem aguardar com
O começo da revelação
Do infinito número de pétalas
Que é a alma.

Que emoção irá renovar o seu corpo
Quando todos começarmos a ver
Que o coração Dele reside em Tudo?

Deus tem uma raiz em cada ato e criatura
das quais Ele extrai sua misteriosa vida Divina.

Os olhos Dele estão pintando campos novamente.

O amado com Suas próprias mãos está cuidando,
Emergindo como uma criança preciosa,
Ele mesmo em você.

Hafiz

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Poemas - O que foi dito pra rosa - Rumi


O que foi dito pra rosa e que a fez abrir-se,
Foi dito a mim aqui no meu peito.

O que foi dito para o pinheiro que o fez forte e alto,
O que foi sussurrado para o jasmim, para ele ser o que é,
O que quer que tenha feito a cana de açúcar doce,
O que quer que tenha sido dito para os habitantes da cidade
De Chigil no Turquistão, que os fez tão lindos,
O que quer que faça a flor da romã ficar corada como uma face humana,
Foi dito pra mim agora, e eu fico corado.
O que quer que ponha eloquência na linguagem, isso está acontecendo aqui.

As grandes portas do armazém se abrem
E eu sinto gratidão,
Mastigando um pedaço de cana de açúcar e
Apaixonado por Aquele a quem tudo isso pertence.

Rumi

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Pensamentos soltos - Hafiz

Qual
É a
Raiz de todos estes
Mundos?
Uma só coisa: o amor.
Mas um amor tão profundo e doce
Que teve que expressar a si mesmo
Com fragrâncias, sons e cores
Que nunca antes
Existiram.

Hafiz

Pensamentos soltos - Gita



"O eu é um amigo para o homem cujo eu foi conquistado pelo Eu;
mas para aquele que não está de posse de seu Eu, o eu é como um inimigo" 
Bhagavad Gita Canto VI, vers. 6

Via Marcos Mahesh

segunda-feira, 19 de março de 2012



Quando por fim me perco em Ti, meu Deus,
 Vejo e sei então,
 Que todo Teu universo revela a Tua beleza,
 Todos os seres vivos, e todas as coisas sem vida,
 Existem através de Ti.

 Todo este vasto mundo é apenas a forma
 na qual mostras a Ti mesmo a nós,
 É apenas a voz
 Na qual falas a Ti mesmo para nós.

 Qual a necessidade de palavras?
 Venha, Mestre, venha,
 E preencha-me totalmente com Ti.

 Leva, Senhor, para Ti
 Meu sentido de ser e faça-o esvair-se completamente.

 Leva, Senhor, minha vida,
 Vivas Tu minha vida através de mim.

 Não vivo mais, Senhor
 Mas agora em mim
 Tu vives.
 Sim, entre Tu e eu, meu Deus,
 Não há mais espaço para “eu” e “meu”.

 Tukaram

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quinta-feira, 8 de março de 2012

Oração - WDS

Ó Senhor

Temos causado a revolta da terra, nossa mãe, por estarmos afastados de Ti, nosso pai
Temos causado a dor de nossos semelhantes, os animais, de todas as formas possíveis, esquecendo que Tu vives em cada coração de todos eles.
Temos poluído nossas águas esquecendo que elas que correm em nossas veias,
nosso ar, esquecendo que ele nos renova a cada dia,
nossa terra, esquecendo que ela nos alimenta a cada dia,
nosso espírito, esquecendo que cada espírito é uma parcela do teu grande espírito ó pai.
Temos esquecido que a guerra há de ser banida da face da terra,
Temos esquecido de viver como os lírios do campo e os pássaros que não acumulam.
Esquecidos de viver o hoje plenamente como se o amanhã não existisse.
Esquecidos do amor incondicional que teus filhos vieram pregar à terra.
Hoje eu venho pedir pelo nosso coração ó Pai.
Que ele se renove com o Teu amor
E possamos lembrar-nos que ele vive na natureza, na terra e no nosso espírito.

Amem

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Hazrat Inayat Khan - O Misticismo do Som e da Música



De acordo com o ponto de vista esotérico, a música é o começo e o fim do universo. Todas as ações e movimentos feitos nos mundos visível e invisível são musicais. Isto é, eles são constituídos de vibrações pertencentes a um certo plano de existência. Em sânscrito, a música é chamada sangita, que significa três sujeitos: o cantar, o tocar e o dançar. Esses três estão combinados em toda ação. Por exemplo, na ação da fala há a voz significando o cantar, a pronunciação das palavras significando o tocar e os movimentos do corpo bem como a expressão da face significando o dançar.

A música oriental está inteiramente baseada sobre uma base filosófica e espiritual. O inventor dela foi Mahadeva, o senhor dos Iogues, e o maior músico foi Parvati, sua amada esposa. Krishna, a encarnação de Deus, era um músico hábil, que encantava ambos os mundos através da música de sua flauta, fazendo os Iogues dançarem. Bharata Muni, o maior santo hindu, foi o primeiro compositor de música. Os místicos, tal como Narada e Tumbara, foram grandes músicos. No céu dos Hindus o Deus Indra é entretido pelo canto clássico dos Gandharvas e pela dança dos Apsaras. A Deusa da música é Sarasvati, que também é a Deusa da sabedoria; ela é uma grande amante da Vina. Todo o sistema da religião e filosofia hindu está baseado na ciência das vibrações e é chamado de Nada Brahma, Deus-Som.

O poeta Shams de Tabris, ao escrever sobre a criação, diz que todo mistério do universo reside no som. Esse fato é expressado no Corão e também na Bíblia.

Vibrações mais finas tornam-se mais grosseiras em sua graduação formando os diferentes planos de existência, culminando na manifestação física. Assim como a água quando congelada transforma-se em neve, também a atividade materializa as vibrações. Menos atividade as eteriza, mostrando que o espírito e a matéria são a mesma coisa num sentido mais elevado. O espirito descende em matéria através da Lei da vibração, e a matéria também ascende em direção ao espírito. Os grandes Iogues e Sufis sempre progrediram através de suas práticas em direção ao mais elevado estado de perfeição ao eterizarem-se através do conhecimento das vibrações. O som material dos instrumentos ou da voz produzido pelos órgãos humanos de som, é na verdade a consequência do som universal das esferas, o qual somente pode ser escutado por aqueles que se afinaram com ele. Este estado é chamado de Anahad Nada pelos Iogues e Sawt-e-Sarmad pelos Sufis.

O músico e o amante da música tornam-se refinados e são conduzidos ao mais elevado mundo do som. Os Sufis perdem a si mesmos no som e chamam isso de êxtase ou masti. Poderes psíquicos e ocultos surgem após experimentarem esta condição de êxtase e o conhecimento da existência visível e invisível é revelado. Essa graça da felicidade e paz está disponível apenas aos Iogues e Sufis interessados na divina arte da música.

Quase todos os grandes músicos do oriente tornaram-se grandes santos através do poder da música. Mais recentemente na Índia, músicos como Tansen e Maula Baksh foram exemplos grandiosos da perfeição espiritual através da música.

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Quando prestamos atenção à música da natureza descobrimos que todas as coisas contribuem para a sua harmonia. As árvores balançam seus galhos alegremente no ritmo do vento, o som do mar, o sussurro do vento, o assobio do vento passando pelas pedras, vales e montanhas, a luz de um raio e o estrondo de um trovão, a harmonia do sol e da lua, os movimentos das estrelas e dos planetas, o desabrochar das flores, o cair das folhas, a alternância regular da manhã, tarde, noite e madrugada – tudo revela ao espectador a música da natureza.

Os insetos têm seus concertos e balé e o coro dos pássaros canta em uníssono os hinos de louvor. Os cães e gatos têm suas orgias, as raposas e os lobos têm suas noites musicais na floresta, enquanto os leões e os tigres presidem suas óperas na selva. A música é a única forma de compreensão entre os pássaros e os animais. Isso pode ser visto pela gradação de tons e volume de tons, a maneira da afinação e o numero de repetições e a duração de seus vários sons. Eles transmitem aos seus parceiros a hora de se juntar ao rebanho, o aviso da aproximação do perigo, a declaração de guerra, o sentimento de amor, o sentido de simpatia, de descontentamento, de paixão, raiva, medo e ciúme, criando uma linguagem própria em si.

Na respiração do homem há um tom constante, e o batimento do coração, o pulso e a cabeça mantêm o ritmo continuamente. Um bebê responde à música antes de ter aprendido como falar, ele move suas mãos e pés num determinado tempo e expressa seu prazer e sua dor em diferentes tons.

A arte da música no oriente é chamada Kala e tem três aspectos: o vocal, o instrumental e o que expressa movimento.

A música vocal é considerada a mais elevada pois é natural; o efeito produzido por um instrumento que é meramente uma máquina não pode ser comparado com o da voz humana. Não importa o quão perfeitas as cordas sejam, elas não poderão causar a mesma impressão que a voz no ouvinte, pois ela vem direto da alma através do alento e foi trazida à superfície por meio da mente e dos órgãos vocais do corpo. Quando a alma deseja expressar-se em voz, primeiramente ela causa uma atividade na mente, que por sua vez, através dos pensamentos projeta vibrações mais finas no plano mental. Isso no devido tempo desenvolve-se e passa como respiração através das regiões do abdome, pelos pulmões, garganta, boca e órgãos nasais, fazendo com que o ar vibre por completo, até que se manifeste na superfície como voz. A voz, portanto, expressa naturalmente a atitude da mente, seja ela verdadeira ou falsa, sincera ou insincera. A voz tem todo um magnetismo do qual carece um instrumento, pois a voz é o instrumento ideal da natureza, a partir do qual todos os outros instrumentos do mundo são modelados.

O efeito produzido pelo canto depende da profundidade do sentimento do cantor. A voz de um cantor compassivo é muito diferente da voz de um que é desprovido de emoção. Não importa o quanto uma voz seja artificialmente cultivada, ela nunca irá produzir sentimento, graça e beleza a menos que o coração seja cultivado também. O canto tem uma dupla fonte de interesse: a graça da música e a beleza da poesia. Na proporção de quanto o cantor sente as palavras que ele canta, um efeito é produzido sobre os ouvintes; seu coração, por assim dizer, acompanha a música.

Embora o som produzido por um instrumento não possa ser produzido pela voz, ainda assim o instrumento é totalmente dependente do homem. Isso explica claramente como a alma faz uso da mente e como a mente governa o corpo. Ainda assim, parece como se fosse o corpo que é o agente e não a mente, e a alma é deixada de fora. Quando o homem ouve o som de um instrumento e vê as mãos do instrumentista trabalhando, ele não vê a mente operando por de trás e nem o fenômeno da alma. A cada passo do ser mais interno em direção à superfície há um aparente progresso que parece ser mais positivo. Porém, cada passo para a superfície implica limitação e dependência.

Não há nada que não possa servir como um veículo para o som, embora o tom manifeste-se mais claramente através de um corpo sonoro do que por um corpo sólido, pois o primeiro é mais aberto às vibrações, enquanto que o último é fechado. Todas as coisas que dão um som claro mostram vida, enquanto que corpos sólidos entupidos de substância parecem mortos. A ressonância é a reserva de tom, em outras palavras é a repercussão do tom que produz um eco. Sob esse princípio são feitos todos os instrumentos, a diferença residindo na quantidade e na qualidade do tom, o qual depende da construção do instrumento.

E efeito da música instrumental também depende da evolução do homem que expressa com a ponta de seus dedos sobre o instrumento seu grau de evolução; em outras palavras, sua alma fala através do instrumento. O estado da mente do homem pode ser lido por seu toque no instrumento, pois por mais hábil que ele seja, ele não pode produzir por mera habilidade a graça e a beleza que atraem o coração sem um sentimento desenvolvido dentro dele mesmo.

Após a música vocal e a instrumental vem a música motora da dança. O movimento é a natureza da vibração. Cada movimento contém em si um pensamento e um sentimento. Essa arte é inata no homem. O primeiro prazer de um bebê na vida é divertir-se com o movimento de suas mãos e pés, uma criança ao ouvir música começa a mexer-se. Mesmo os animais e pássaros expressam sua alegria em movimentos. O pavão, orgulhoso com a visão de sua beleza, mostra sua vaidade na dança, da mesma forma a cobra sai do cesto e balança seu corpo ao ouvir a música do pungi. Tudo isso prova que o movimento é o sinal da vida e quando realizado com música ele coloca tanto o artista quanto e espectador em movimento.

Os místicos sempre olharam para esse tema como uma arte sagrada. Nas escrituras hebraicas encontramos Davi dançando diante do Senhor, e os deuses e deusas dos gregos, egípcios, budistas e brâmanes são representados em diferentes posturas, todas tendo um certo significado e filosofia relacionado com a grande dança cósmica que é a evolução.

Mesmo nos dias de hoje entre os Sufis no oriente, a dança chamada sama ocorre em suas reuniões, pois a dança é consequência da alegria. Os dervixes no sama dão vazão a seu êxtase em Raqs, o que é considerado com grande respeito e reverência pelos presentes e é em si mesmo uma cerimônia sagrada.

A arte da dança degenerou muito devido a seu mal uso. A maioria das pessoas dança ou para se divertir ou se exercitar, frequentemente abusando da arte em sua frivolidade.

Melodia e ritmo tendem a produzir uma inclinação para a dança.

Para resumir, a dança pode ser dita ser uma expressão graciosa do pensamento e do sentimento sem pronunciar nenhuma palavra. Ela pode ser usada também para impressionar a alma através do movimento, produzindo uma imagem ideal diante dela. Quando a beleza do movimento é tomada como um pressentimento do ideal divino a dança se torna sagrada.

A música da vida mostra sua melodia e harmonia em nossas experiências diárias. Cada palavra dita, ou é uma nota verdadeira ou uma nota falsa, de acordo com a escala de nosso ideal. O tom de uma personalidade é áspero como uma corneta, enquanto que o de outra é brando como as notas de uma flauta.

O progresso gradual de toda a criação de uma evolução inferior até a mais elevada, sua mudança de um aspecto para outro, é mostrada como na música onde uma melodia é transposta de uma clave para outra.

A amizade e a inimizade entre os homens, seus gostos e desgostos, são como acordes e dissonâncias. A harmonia da natureza humana e a tendência humana à atração e à repulsão, são como o efeito dos intervalos consonantes e dissonantes na música.

Na ternura do coração o tom torna-se um semitom e quando o coração é partido o tom se quebra em microtons. Quanto mais terno se torna o coração mais cheio o tom ele se torna, quanto mais duro o coração fica mais morto ele parece.

Cada nota, cada escala e cada som estinguem-se no momento determinado e no final da experiência da alma aqui o finale chega. Mas a impressão permanece, como um concerto num sonho, diante da visão da consciência.

No que diz respeito à música do absoluto, o baixo, o subtom (ou o tom sutil), prossegue continuamente, mas na superfície e sob as várias notas de todos os instrumentos da música da natureza esse tom sutil está escondido e subjugado. Cada ser com vida vem à superfície e novamente retorna para o lugar de onde veio, assim como cada nota tem seu retorno ao oceano de som. O subtom desta existência é o mais alto e o mais brando, o mais elevado e o mais baixo. Ele oprime todos os instrumentos de tom alto ou baixo, agudo ou grave, até que todos se fundam nele. Esse subtom sempre é, e sempre será.

O mistério do som é misticismo; a harmonia da vida é religião. O conhecimento das vibrações é metafísica e a análise dos átomos é ciência, seu agrupamento harmonioso é arte. O ritmo da forma é poesia e o ritmo do som é música. Isso mostra que a música é a arte das artes e a ciência de todas as ciências e ela contém a fonte de todo conhecimento dentro de si.

A música é chamada de a arte divina ou celestial não apenas porque ela é em si uma religião universal, mas por causa de sua sutileza em comparação com todas as outras artes e ciências. Cada escritura sagrada, ilustração sagrada ou palavra falada sagrada, produz a impressão de sua identidade sobre o espelho da alma, mas a música permanece diante da alma sem produzir nenhuma impressão deste mundo objetivo nem em nome nem em forma, assim preparando a alma para realizar o infinito.

Reconhecendo isso, o Sufi chama a música de giza-i-ruh, a comida da alma, e usa a música como uma fonte de perfeição espiritual, pois a música ventila o fogo do coração e a chama que surge dele ilumina a alma. O Sufi tira muito mais proveito da música em suas meditações do que em qualquer outra coisa. Sua atitude devocional e meditativa torna-o sensível à música, a qual ajuda-o em seu desenvolvimento espiritual. A consciência, através da ajuda da música, primeiramente liberta-se do domínio do corpo e depois da mente. Uma vez isso realizado, apenas mais um passo é necessário para atingir a perfeição espiritual.

Os Sufis de todas as épocas tiveram um sério interesse na música em qualquer terra em que residiram. Rumi adotou especialmente essa arte por conta de sua grande devoção. Ele ouvia os versos dos místicos sobre o amor e a verdade cantados pelos qawwals, os músicos, com o acompanhamento da flauta.

O Sufi visualiza o objeto de sua devoção em sua mente que é refletido sobre o espelho de sua alma. O coração, o fator do sentimento, é possuído por todos, embora ele não seja um coração vivente em todas as pessoas. O coração é tornado vivo pelo Sufi que dá vazão aos seus sentimentos intensos em lágrimas e suspiros. Ao fazê-lo, as nuvens do jelal, o poder que congrega com seu desenvolvimento psíquico, caem em lágrimas como gotas de chuva e o céu de seu coração é clareado, permitindo a alma brilhar.

Essa condição é considerada pelo Sufi como um êxtase sagrado. O wajad, ou êxtase sagrado que os Sufis experimentam como regra no sam'a, pode ser dito ser a união com o Desejado. Existem três aspectos dessa união que são experimentados pelos diferentes estágios de evolução.

O primeiro é a união com o ideal reverenciado do plano da terra, presente diante do devoto, seja no plano objetivo ou no plano do pensamento. O coração do devoto, repleto de amor, admiração e gratidão, torna-se capaz de visualizar a forma de seu ideal de devoção enquanto escuta a música.

O segundo passo no êxtase e a parte mais elevada da união é a união com a beleza de caráter do ideal, não importando a forma. A música em louvor ao personagem ideal ajuda o amor do devoto a brotar e transbordar.

O terceiro estágio no êxtase é a união com o divino Amado, o mais elevado ideal, que está além da limitação do nome e da forma, da virtude e do mérito; com o qual a alma tem constantemente buscado a união e a quem ela finalmente encontrou. Essa alegria é inexplicável. Quando as palavras dessas almas que já atingiram a união com o divino Amado são cantadas diante daquele que está trilhando o caminho do amor divino, ele vê todos os sinais no caminho descritos naqueles versos e isso é um grande conforto para ele. O louvor Daquele assim idealizado, tão diferente do ideal do mundo em geral, preenche-no com uma alegria além das palavras.

O êxtase manifesta-se em vários aspectos. Às vezes o Sufi pode estar às lágrimas, às vezes pode estar suspirando, às vezes ele se manifesta em Raqs, movimentos. Tudo isso é considerado com respeito e reverência por aqueles presentes na assembléia do sam'a, pois o êxtase é considerado uma bênção divina. O suspiro do devoto ilumina um caminho para ele no mundo invisível e suas lágrimas lavam o pecado de eras. Toda revelação segue o êxtase, todo o conhecimento que um livro jamais poderá conter e que a linguagem jamais poderá expressar, nem um professor ensinar, vem a ele por si mesmo.

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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Poemas - Kabir Das



Aquele que é humilde e contentado,
que tem uma visão equânime,
cuja mente está preenchida
com a plenitude da aceitação e do repouso;

Aquele que viu a Ele e tocou-lhe,
é liberado de todos os medos e problemas.

Para ele o pensamento perpétuo de Deus
é como pasta sândalo espalhada no corpo,
para ele não há deleite em nada mais,

seu trabalho e seu descanso são preenchidos com música:
ele exala por toda parte o esplendor do amor.

Kabir diz:

"toque os pés daquele que é um e indivisível, imutável e pacífico,
que preenche todos os frascos até a borda com alegria
e cuja forma é amor".

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Poemas - Farid Ud-din Attar



Como a Essência Dele permeia todo o mundo,
nada na criação é, salvo Ele apenas.
.
Sobre as águas Ele fixou Seu Trono,
suspendeu esta Terra no espaço estrelado,
ainda assim o que são os mares e o que é o ar?
.
Se tudo É Deus,
o céu e a terra são apenas um talismã para velar a Divindade.
Pois se o céu e a Terra não fossem permeados por Ele
seriam apenas nomes.
.
Saiba, portanto, que tanto este mundo visível
quanto aquele que é invisível são o próprio Deus.
Nada é, exceto Deus:
e tudo o que é, é Deus.
.
E ainda, infelizmente, por quão poucos Ele é visto,
cegos são os olhos dos homens,
embora tudo brilhe de maneira resplandecente
e o mundo seja iluminado pela luz da Divindade.
.
Ó Você, a quem os homens não percebem,
embora dignifique-se a tornar-se deles conhecido;
Você é toda Criação,
a tudo contemplamos, exceto Você.
.
A alma dentro do corpo fica escondida,
E Você oculta a Si mesmo dentro da alma,
Ó alma na alma!
Mistério que se esconde no mistério!
.
Antes de tudo Você era e é mais do que tudo!

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Poemas - Hafiz



Quanto mais perto chego de você, Amado,
mais consigo ver que somos apenas Você e eu neste Mundo.

Escuto baterem na minha porta,
quem mais poderia ser?

Então corro para abrir sem pentear meus cabelos.

Por noites de mais tenho implorado pelo Seu retorno;

de que serve a vaidade a esta hora da noite,

nesta estação divina que chegou a mim aqui de joelhos?

Se Suas cartas de amor são verdadeiras, querido Deus,

Irei me render àquele que Você continua dizendo que Eu Sou. 

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