terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Artigo - Tecnologias Alternativas na Agricultura Sustentável - WDS



TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS NA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
William Davidans Sversutti (PIC/UEM), Alan Rodrigo Relk de Oliveira (PIC/UEM), Ednaldo Michellon (Orientador)- http://www.eaic.uel.br/artigos/CD/3888.pdf

Universidade Estadual de Maringá/Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Palavras-chave: Agricultura Sustentável, Tecnologias alternativas, Administração Rural.

Resumo
O presente estudo buscou compreender quais são as tecnologias alternativas usadas nas diversas escolas de agricultura alternativa, focando-se em descrevê-las e perceber suas possíveis interações. Depois, delineou-se o significado de “agricultura sustentável”, e, por fim, procedeu a interação entre estes dois temas, buscando relacioná-los, de tal forma em que se pôde perceber a importância do primeiro em relação ao segundo.

Introdução
Desde a década de 1980, no Brasil, Ana Primavesi (1988)
previa que o modo industrial de se fazer agricultura possuía diversos problemas, pois apesar do uso bastante generalizado de agrotóxicos, as pragas e as doenças aumentavam assustadoramente. A partir daí, pensadores voltaram suas pesquisas para técnicas que promoviam soluções para os problemas que se seguiriam, caso a revolução verde tomasse as rédeas. Era um momento em que por um lado a tecnologia agrícola orientada para o consumo de “insumos modernos” pregava o seu uso intensivo como solução para uma grande produtividade.
Em contraponto, a Agroecologia foi sendo construída por pioneiros como Lutzemberger (1978),
Seó (1984)

e Primavesi (1988).
Eis que, dentro desta perspectiva, as tecnologias ditas “alternativas”, “de baixo impacto”, “brandas” surgiram para contrabalancear as chamadas tecnologias “duras” (LUTZEMBERGER, apud SEÓ, 1984, p. 14).
Assim, Tecnologias duras, que fazem parte da agricultura de rapina, segundo Lutzemberger (1978; p. 21) “é hoje mais destruidora que no passado.
A devastação é indescritível, a ponto de escandalizar até viajantes de pouca visão ecológica”. Diante dessas questões, o problema desta pesquisa residiu em verificar quais são as chamadas tecnologias alternativas e como estas podem gerar ambientes agroecológicos sustentáveis, face à crescente problemática envolvendo tais questões.

Resultados e Discussão
Para se entender as tecnologias alternativas deve-se situá-las dentro das escolas de agricultura sustentável, conforme segue:
i) Agricultura Biodinâmica – surgiu na Alemanha, com Rudolf Steiner (1924).
Apresenta como tecnologias o uso de preparados biodinâmicos, que são organismos vivos, feitos à base de extratos de plantas e de soluções orgânicas e minerais. Estes podem ser divididos em dois grupos: os que são pulverizados no solo e nas plantas, e os que são inoculados em composto ou outras formas de adubos orgânicos como biofertilizantes e chorumes.
ii) Agricultura Orgânica – surgiu com Albert Howard e suas experiências na Índia, entre 1920-40, com ênfase na compostagem e na vida microbiana. Segundo Paschoal (1994), os princípios e técnicas orgânicos são: manejo e conservação do solo e da água com o controle de erosão, adubações orgânicas, rotação de culturas, incorporação de matéria orgânica e de nutrientes minerais, cultivo múltiplo, manejo natural de pragas, patógenos e ervas invasoras, uso adequado de máquinas e implementos agrícolas, uso de fontes alternativas de energia e integração agricultura – criação animal.
Solo Humífero

iii) Agricultura Natural – surgiu no Japão, pela Igreja Messiânica (1930-40). Recentemente, a agricultura natural tem se concentrado na utilização de microorganismos benéficos. Considerando o autor Seó (1984), como representante da escola Natural, pode-se citar algumas de suas tecnologias alternativas: compostagem, adubação verde, controle natural de pragas, biodigestor, uso de plantas consorciadas, uso de inseticidas naturais e armadilhas que não utilizam venenos como a armadilha luminosa, as garrafas armadilhas, dentre outras técnicas como a utilização de casas para atrair pássaros e morcegos, reciclagem de materiais como o papel para se fazer mudas, caçadeiras de larvas de mosca e a utilização da energia solar através dos secadores, fornos, aquecedores e destiladores solares.

 Como atrair os pássaros


Forno Solar Modelo Ferro Velho

iv) Agricultura Agrobiológica – surgiu na França, com Claude Aubert, na década de 1960. Algumas técnicas da agricultura agrobiológica são: fertilização orgânica, rotação de culturas e o trabalho do solo. A fertilização é feita através da compostagem de matéria orgânica que visa nutrir os organismos vivos do solo e devem ser utilizadas de acordo com as condições da propriedade. Pelo princípio da Trofobiose acredita-se que plantas bem nutridas não ficam doentes. Utilizam também a adubação verde e os fertilizantes minerais, porém estes não sofrem transformações químicas, são apenas moídos. São Rochas moídas.
Compostagem
 v) Agroecologia – surgiu nos EUA e na América Latina com Miguel Altieri, José Lutzemberger, Ana Maria Primavesi, Stephen Gliessman, dentre outros, a partir dos anos 1970. O desafio da escola agroecológica é alcançar agroecossistemas sustentáveis, que se assemelhem aos ecossistemas naturais mantendo uma produção razoável. Para tal o agricultor deve usar o conceito de ecossistema no desenho e manejo do agroecossistema, ou seja, deve esforçar-se para manter os ciclos de nutrientes tão fechados quanto possível, a fim de reduzir as perdas de nutrientes do sistema. Nesse sentido, Gliessman (2005) aponta algumas técnicas como a aplicação dos estudos dos fatores macro-ambientais em relação aos cultivos, como a análise do ambiente luminoso, do micro clima, da pluviosidade, do vento, do manejo do solo, da água e do fogo, percebendo no conjunto a interação entre os diversos fatores. Em suma, busca-se a interação ambiental, social e a diversificação.


vi) Permacultura – surgiu na Austrália com Bill Mollison, nos anos 1970. De acordo com o Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica – IPEMA, a Permacultura trata as plantas, animais, construções, infraestruturas (água, energia, comunicações) não apenas como elementos isolados, mas como sendo todos parte de um grande sistema intrinsecamente relacionado, ou seja, é o sistema agrosilvipastoril no seu conjunto.


Por sua vez, o movimento de Agricultura Alternativa, que surgiu nos EUA com John Pesek, na década de 1980, pode-se dizer que defendia uma volta à origem dos tempos, antes da agricultura ter utilizado fertilizantes químicos e agrotóxicos, tanto quanto adubos. O termo agricultura alternativa procurava definir todas as técnicas que não utilizavam os artifícios da indústria química, e corresponde a diversas técnicas presentes nas escolas estudadas anteriormente, segundo Khatounian (2001) sobretudo a orgânica e a biodinâmica.
Por último, podem-se citar algumas tecnologias de caráter recente que não estão presentes dentro do corpo conceitual das escolas abordadas. Dentre elas estão, por exemplo, os sistemas de irrigação que utilizam da energia solar, o uso de “construções ecológicas” ou “construções sustentáveis” que utilizam de material reciclável, ou de materiais que não oferecem impacto ambiental. Como uma curiosidade constatada nesta pesquisa destaca-se a utilização da música em cultivos de plantas

Conclusões
Conclui-se que as tecnologias alternativas são os instrumentos para a realização da “agricultura sustentável”, conceito este que abrange um conjunto de técnicas desenvolvidas por diversas escolas de agricultura. Enquanto a sustentabilidade fornecia uma meta para focalizar a pesquisa agroecológica, a abordagem de sistema integral da agroecologia e o conhecimento de equilíbrio dinâmico proporcionavam uma base teórica e conceitual consistente para a sustentabilidade.
O presente trabalho encontrou diversas tecnologias que proporcionam aos produtores uma menor dependência da indústria agroquímica. A agricultura do futuro deve ser tão sustentável quando altamente produtiva, para poder alimentar a crescente população humana. E, as tecnologias desenvolvidas por elas devem estar concentradas na utilização dos recursos naturais de maneira sóbria e sustentável, conduzidas por uma administração que considere aquelas como ferramentas potenciais para garantir uma produtividade constante e ecologicamente sustentada.

Referências
ANDRADE, M. M. de. Como preparar trabalhos para cursos de pós graduação. São Paulo: Atlas, 1997.
GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: Processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto Alegre: UFRG, 2005.
KHATOUNIAN, C. A. A reconstrução ecológica da agricultura. Botucatu: Agroecológica, 2001.
LUTZEMBERGER, J. Fim do futuro? Manifesto Ecológico Brasileiro. Porto Alegre: Movimento, 1978.
LUTZEMBERGER, J. Manual de ecologia: do jardim ao poder. Porto Alegre: L&PM Poket, 2004.
MEIRELLES, A. de M.; GONÇALVES, C. A. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2004.
PASCHOAL, A. D. Produção orgânica de alimentos: Agricultura sustentável para os séculos XX e XXI. Piracicaba:Globo, 1994.
PRIMAVESI, A. M. Manejo ecológico de pragas e doenças. São Paulo: Nobel, 1988.
SEÓ, E. H. Unidade da vida. Manual de agricultura natural. São Paulo: Espade, 1984.

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