O caule do lótus é oco, razão pela qual, ao emergir da lama é extraordinariamente limpo. A flor do crisântemo é tardia, razão pela qual, ao encontrar a geada do outono, é extraordinariamente fresca. Quando o interior é oco, as coisas exteriores não podem deixar sua marca; quando a flor é tardia, a energia é plena e resistente ao frio.
O que percebo quando observo isso é o Tao do cultivo do interior e da imunidade às coisas exteriores. A razão pela qual a Criação pode nos constranger, a razão pela qual as coisas podem nos influenciar, o motivo de a calamidade poder nos ferir, não é que a Criação possa de fato nos constranger, nem que as coisas possam de fato nos influenciar, nem que a calamidade possa efetivamente nos ferir - tudo se deve à resposta emocional que temos diante das nossa mente, como o vento que levanta ondas em qualquer direção na qual sopre. Se sabemos avançar mas não sabemos ficar para trás, se sabemos ser impetuosos mas não sabemos ser receptivos, nós nos constrangemos, nos influenciamos e nos ferimos.
Se formos verdadeiramente capazes de ser de tal maneira que nada nos ocorra nem surja em nós nenhum pensamento, sempre claros e calmos, impávidos diante das coisas exteriores, imunes às influências externas, seremos como um lótus que emergiu da água, sem a mácula da sujeira. Se formos verdadeiramente capazes de ocultar o próprio talento e percepção, sendo habilidosos mas nos mostrando limitados, sendo sábios mas com aparência de ignorantes, agindo de modo discreto, prontos a nos mostrarmos flexíveis, a calamidade e a fortuna não poderão nos afetar. Seremos como o crisântemo no outono, infenso à geada e ao frio. (Em: O Despertar para o Tao - Liu I-Ming)
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